quarta-feira, 27 de abril de 2011

Faço qualquer coisa pelo produto


É um tipo de propaganda. Faço qualquer coisa pelo produto. Os publicitários, clientes e agências, acham que é um tipo de humor. Eu acho que é um tipo de sintoma do nosso caos social. Faço qualquer coisa pelo produto.

Seu carro é muito melhor que o meu, eu fiz a escolha errada na hora da compra, então eu coloco fogo no meu carro. Claque de risadas.

Sou um cachorro de madame com cara engraçada, que resolvi começar a falar pq andei no seu novo carro. ( Aos olhos de uma pessoa sensata é só um carro ) Pra mim que sou cachorro, e nunca tinha falado, seu novo carro com sei que lá ultra hype new fucking cool me faz até falar, afinal agora tenho assunto. no final uma voz engraçada faz AU-AU. Claque de risadas.

Sou um treinado guarda da rainha da Inglaterra, mas seu carro sul-coreano, com uma lataria que parece mais frágil que uma lata de Coca-cola, me faz dobrar o pescoço, esboçar um sorriso, dançar a conga se for preciso. A audiência passa mal de rir, alguns assovios e muitos gritos.

Minha esposa é a Gisele Bunchen, mas por alguma coisa que eu não sei explicar o que é, seu produto é muito mais sedutor, companheiro, sexy, descolado e completo, em todos os sentidos que uma mulher linda e viajada pelos 4 cantos do mundo nunca será.

Vamos combinar que eu, consumidor, segundo a publicidade, agência e clientes, não sei fazer escolhas. Estou errando a toda hora, e os comerciais me lembram que eu sou capaz de fazer qualquer coisa pelo produto certo. Mas, eu cá na minha humildade, deveria admitir que sou um idiota mesmo, e parar finalmente de consumir propagandas.

quinta-feira, 21 de abril de 2011

Pedestre não


Continua a reforma. O revestimento para o banheiro acabou, precisei de mais e fui comprar no único lugar que encontrei. Uma enorme loja e depósito perto da Ponte do Tatuapé. 2 ônibus depois, lá estava eu na inóspita marginal, no sentido contrário da loja. Poucos metros me separavam da ponte, eu teria que alcança-la e atravessar. Mas como? Nenhuma faixa, nenhum farol, carros a milhão e pra piorar, a nova alça de acesso pra Salim Maluf enterrou qualquer possibilidade de atravessar. Alguns minutos depois consegui. Um matagal alto e espesso toma conta do passeio, dobrando o trajeto até o alto da ponte. Finalmente, atravesso a ponte do Tatuapé a pé. Carros estacionados no trânsito assitem o único pedestre em quilometros se aventurar num espaço de 1,5m de calçada, acompanhado por 30cm de muro, que me separam da queda e das turvas águas do rio. Muito perigoso, assustador, temi pela vida.

Pra sair da ponte, outro transtorno para atravessar a alça de acesso. Nada foi feito para o pedestre. Não é seguro, está longe de ser um passeio agradável. E é assim em todas as pontes das marginais.

Quero o meu espaço de pedestre. Quero dividir o espaço da cidade com direitos iguais. Não é possível que o carro tem a prefêrencia e pronto.

O revestimento já está aqui e ficou lindo no banheiro.

dica: pisos e revestimentos ficam 8 meses no mercado. Depois ficam mais 2 meses por encomenda, e depois só em cemitério de azulejos.

ps: 2 pedestres morrem por dia em SP atropelados.

segunda-feira, 4 de abril de 2011

Burning down the house


Começou a reforma da minha casa. Pedreiros, poeira, barulho e aquela sensação deliciosa de casa nova. Vou refazer todo o banheiro, construir uma laje sobre a garagem e revestir a casa com pisos e azulejos novos. Azulejos que agora chama revestimento mesmo.

O piso e o revestimento, mais um porcelanato pro chão da garagem, são os investimentos mais caros.

Na hora de comprar, solicitos vendedores dizem do que os pisos são feitos, o que é melhor para essa ou aquela situação. Ok, ótimo. Mas, e o certificado ecológico desses produtos? O vendedor espantou, arregalou os olhos e engoliu seco. Achou um certificado no piso escolhido para o banheiro, e certificados para as empresas dos outros produtos. Nada muito específico, nada muito esclarecedor.

Se estou comprando produtos que agridem irresponsávelmente o meio-ambiente é difícil dizer. Sites e telefones de atendimento ao consumidor não dizem nada, ou pouca coisa.

Cimento, argamassa, rejuntes e tijolos ostentam esses certificados. Um alento, fico mais tranquilo com essa responsabilidade, e se não existe escravidão chinesa envolvida.

sexta-feira, 1 de abril de 2011

O Dia de hoje


A minha geração nascida na década de 70 tem um trauma: energia nuclear. Se não bastasse "The Day after" e "Síndrome da China" na tv, afinal eram telefilmes mesmo, não acho que passaram no cinema, tivemos ainda Chernobyl. E nem o fato do kraftwerk ter cantado Chernobyl no The Mix de 1991 serviu pra salvar esse nome. Ainda é sinonimo de uma tragédia que assistimos diariamente no Jornal Nacional, com detalhes e cenas que ficaram tatuadas na memória.

Mesmo assim, "The Day After" deixou mais tatoos ainda. A bomba explodindo no fim da rodovia, o médico recebendo as vítimas, as baratas sobrevivendo à radiação. Um marca dos anos 80.

Por isso, Angra nunca foi pra mim significado de energia limpa. Eu pensava : "Essas pessoas não assistiram o filme, não viram do que esse energia é capaz?" Criança, eu nem sabia o que era energia limpa. Hoje discutimos isso amplamente. Por isso quero qualquer energia limpa, menos a nuclear.

A saber: as pousadas, o comércio, as pessoas na cidade ou nas ilhas, ninguém tem qualquer orientação, panfleto ou treinamento para sair de Angra dos Reis em caso de um vazamento ou explosão. Só depois que acontecer é que vamos discutir né.

http://www.adorocinema.com/filmes/sindrome-da-china/
http://www.adorocinema.com/filmes/dia-seguinte/