quinta-feira, 29 de agosto de 2019

classemédia baixa ou alta






Eu cresci naquela faixa curiosa da população de classe média dos anos 80: nem pobre suficiente nem rico suficiente.

Quer dizer que eu não era pobre para andar com os caras mais descolados, e temidos do bairro. Uma boa parte deles vivia num galpão na rua de trás, uma comunidade para crianças sem pais e mulheres solteiras com filhos. A rua de trás da casa dos meus pais era um lugar bem distante, distância criada pela educação classe média que nos impedia ir muito longe de casa.

Eu não falava e não me portava como eles, eu não me entendia com eles, e hora ou outra eles ia querer me bater exatamente por causa da minha fleuma de classe média criada por 2 funcionários públicos do setor da educação, vulgo professores.

Eu abria a boca e eles deviam pensar "mané". Eu jogava bola com eles me xingavam. Eu deixava brincar com meus brinquedos eles não me batiam.

Nem era rico suficiente para atrair os mais ricos para os meus brinquedos. Atrair os mais metidos à besta na rua para brincar no quintal de casa era raro. Quando um deles foi finalmente, até suco eu ofereci pra todo mundo, garantindo que o rico loiro fosse servido de ki-suco primeiro.

Pra eles, eu era remelento igual a qualquer pobre. Me lembro que quando fui à um aniversário de um que aparentava mais riqueza, minha mãe me arrumou como se eu fosse casar. É o vira-latismo classe média, aonde não podemos parecer pobres pros mais ricos.

Esse lugar estranho aonde vc sabe que os mais ricos não chegaram lá por mérito, e os mais pobres não tem chance de chegar em lugar nenhum.

Um lugar que vc foge da pobreza e de parecer pobre, mas é humilhado e ignorado por quem tem mais dinheiro enquanto é invejado pelo seu estilo de vida pelos mais pobres.

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